Automotive Business

Em 2017 a indústria de caminhões voltará a celebrar crescimento nas vendas, com relação aos volumes deste ano. A base de comparação ficou mais baixa, é verdade, mas a possibilidade de estancamento na queda é real e foi opinião unânime dos participantes do painel A Retomada dos Pesados do Workshop Planejamento Automotivo 2017, realizado por Automotive Business na segunda-feira, 22, em São Paulo.

Carlos Reis, diretor da Carcon Automotive, abriu a discussão com uma apresentação dos prognósticos da consultoria. Após enfrentar retração de 26% este ano, alcançando 53 mil unidades, as vendas de caminhões crescerão 17% no ano que vem, para cerca de 62 mil veículos. Os executivos, porém, estão mais otimistas:

“O crescimento no PIB, a possibilidade da implantação do programa de renovação de frota e o fim dos programas de financiamentos dos caminhões adquiridos por meio do PSI em 2011, ano recorde da indústria, nos fazem crer que podemos crescer 25%”, afirmou Luis Antonio Gambim, diretor comercial da DAF Caminhões.

Marco Borba, presidente da Iveco, mencionou expectativa de elevação de 10% a 15%; Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN, acredita em incremento de 20%; João Pimentel, diretor de operações da Ford Caminhões, falou em alta de 10% a 20%, com possibilidade de índices superiores; Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing da Mercedes-Benz, e Bernardo Fedalto, diretor de vendas de caminhões da Volvo, preferiram não arriscar palpite, embora creiam no avanço do mercado.

“A reversão da curva de queda nas vendas já começou em julho, quando o mercado esboçou pequena reação. Ela seguirá branda nos próximos meses e deverá ficar mais forte a partir do ano que vem”, disse Alouche. “Assim que a economia der sinais positivos, clientes mais rentabilizados voltarão a comprar. Mas não haverá um boom”, previu Fedalto.

Uma das esperanças dos executivos é o lançamento do tão aguardado programa de renovação de frota, prometido pelo ministro Marcos Pereira, do novo Mdic, já para o ano que vem (leia aqui). “O programa nunca esteve tão maduro a ponto de ser lançado. O potencial de incremento nos volumes é grande”, afirmou o vice-presidente da MAN Latin America.

PREÇOS DEFASADOS

Um fator que pode jogar contra o crescimento em 2017, embora sem afetar a crença na alta nos volumes, é a necessidade de reajustar os preços dos caminhões, levantada por Leoncini. Segundo o executivo, a Mercedes-Benz o fará em duas etapas: “Uma em outubro, outra em janeiro. Os preços estão nos níveis de 2009 e de lá para cá só a inflação acumulada passa de 30%, sem incluir outros custos como tecnologia e aumento real da mão-de-obra”.

Gambim e Alouche fizeram coro ao VP da Mercedes-Benz sem dar detalhes dos planos de suas empresas. De qualquer forma, garantiram: não tem mais como segurar o preço atual dos caminhões, que sequer cobre o aumento de custos das fabricantes.

Se de um lado estão com a rentabilidade pressionada, por outro as montadoras estão apertadas pela demanda baixa do mercado. Os executivos contaram aos participantes algumas das medidas que precisaram tomar para tentar driblar a crise.

“No último ano e meio nosso foco foi total na área de pós-vendas, nas nossas ofertas de serviços”, explicou Fedalto, da Volvo. Borba, da Iveco, concorda. “O pós-venda foi importante nesse período, mas sem perder o foco no produto. Mantivemos nossos planos e investimentos mesmo com o mercado em baixa”.

RECORDE VAI DEMORAR

Embora os executivos falem em crescimento, o mercado de caminhões neste e no próximo ano não chegará nem à metade do volume recorde do segmento, as 170 mil unidades de 2011. Repetir esse número é uma meta ainda distante: “Não creio que possamos igualar esse resultado tão logo. Acho que podemos falar em alcançar 110 mil unidades em 2020 e 150 mil em 2024”, estimou Pimentel, da Ford. “Os 170 mil se repetirão um dia, mas vou ficar devendo uma data”, disse Fedalto.

POR SEGMENTO

Além de apresentar as previsões gerais da indústria de caminhões, Reis, da Carcon, mostrou estimativa por segmento. A consultoria acredita em aumento em todos, do semileve ao pesado. “Sessenta por cento das transportadoras estão otimistas e acreditam que o frete vai melhorar no segundo semestre deste ano”, disse o consultor.

A Carcon projeta para o segmento de semileves alta de 7,8% no ano que vem, após uma queda de 7,1% em 2016. A queda de um ano para o outro será, portanto, compensada, fazendo com que o segmento retorne aos níveis de 2015. Para os leves, os números estimados são de 29,7% negativos neste ano e 16,1% positivos em 2017.

As vendas de médios, após amargar retração de 34,6% este ano, deverão subir 22,4% em 2017. Nos semipesados, queda de 35,3% em 2016 e alta de 17% no ano que vem.

O segmento de caminhões pesados será o único, segundo os dados da Carcon, a recuperar todo o volume perdido neste ano em 2017, superando o resultado de 2015: após cair 11,4% em 2016, crescerá 18,1% no ano que vem.