Uma carreta de 30 metros faz barulho ao avançar sobre a Rua do Alho, atrás do Mercado São Sebastião, na Penha, de onde saem alimentos que abastecem toda a cidade. Com dois contêineres na caçamba, o veículo passa por depósitos dos maiores supermercados do Rio e por um bar frequentado por caminhoneiros. Ao verem o colega ao volante, alguns acenam.
São 22h de uma quarta-feira. A quietude evapora num átimo quando um automóvel prata acelera em direção ao caminhão. Os dois veículos entram na Avenida Brasil e somem da vista. Quem estava no bar se alarmou ao ver dois homens no carro, um deles com pistola na mão. Assaltado duas vezes, Marcos Mariano sabe que, se não era escolta, só poderia ser assalto.
Mariano acabara de jantar um filé de frango com batatas e se despedia dos colegas no bar. Estava pronto para entrar em sua carreta e passar a noite na estrada. Entregaria em Campinas, ao amanhecer, R$ 300 mil em cargas da Johnson & Johnson. O homem de 40 anos pede proteção a Deus e liga o motor.
Até a subida da Serra das Araras, a equipe do GLOBO vai com ele. Dirige concentrado em cada carro que passa: àquela hora, com a Avenida Brasil vazia, quem quiser roubá-lo vai conseguir. De repente, um carro preto com vidros escuros passa muito perto do caminhão. Mariano reduz a velocidade. O carro o ultrapassa, e o motorista respira fundo.
— Aqui, na Brasil, estamos nas mãos de Deus. É o trecho mais perigoso que conheço. Tenho medo, já fui parar em favela. A última vez foi no ano passado, dois dias antes de a minha filha nascer — lembra Mariano.
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