Chuva destrói estradas e prejudica o transporte em quatro estados do país

Jornal Hoje

As chuvas de verão provocam prejuízos milionários para, pelo menos, quatro estados do país. Plantações foram destruídas, moradores ficaram isolados e pontes acabaram arrastadas pela água. Levantamento do Jornal Hoje contou 116 pontes atingidas em regiões do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

Mato Grosso do Sul
Na beira do Rio Santo Antônio, em Guia Lopes da Laguna, no interior de Mato Grosso do Sul, o que se vê é um monte de entulho. De um lado do rio, fica a cidade e, do outro, ficam fazendas e assentamentos rurais. O entulho era de uma ponte muito importante tanto para os moradores quanto para os produtores rurais da região, pois era por ela que passava toda a produção de grãos, gado e leite das fazendas.

A ponte desabou no começo de janeiro. Um morador gravou com o celular. A imagem é impressionante (veja no vídeo acima). A ponte desaba em efeito dominó e não sobrou uma viga de pé. Isso virou um problemão para todo mundo. Quem passa a pé e de bicicleta pode usar uma passarela, que o Exército construiu esta semana. É uma solução provisória, porque ainda não tem prazo para a ponte ser reconstruída.

Esta não foi a única ponte a desabar. Segundo a Defesa Civil, mais de 60 pontes foram destruídas e danificadas em Mato Grosso do Sul nos últimos dois meses e isso está afetando muito os produtores. Quem anda pelas rodovias do estado tem que tomar mais cuidado. Além das pontes atingidas, crateras dividiram estradas ao meio.

Desde que a ponte desabou, quem mora do outro lado do rio enfrenta dificuldade para levar a produção para a cidade. A única alternativa é uma ponte de madeira, mas ela não aguenta muito peso. A prefeitura já colocou um limitador. Agora, só carros e caminhonetes passam. Caminhões têm que fazer um desvio de 140 quilômetros.

Alguns animais morreram, porque uma fazenda de Deodápolis ficou quase toda debaixo d´água. “Eu perdi 30% por causa da falta de pasto mesmo, fome. Fora umas res ou outra que se afogaram aí também, bezerros principalmente”, lamenta o produtor rural Frederico Tomaz Santos.

As péssimas condições da estrada impediram o produtor de buscar ração para o gado. A prefeitura diz que não tem dinheiro para consertar. Os produtores rurais vão doar cascalho para consertar estradas vicinais. A chuva também prejudicou a soja. Como as plantações ficaram encharcadas, não deu para fazer a colheita. A associação de produtores calcula um prejuízo de R$ 500 milhões.

São Paulo
No noroeste paulista, 13 pontes estão interditadas em oito cidades por causa da chuva das últimas semanas. Em uma ponte, que fica entre Olímpia e Tabapuã, a força da água destruiu a cabeceira e a estrada precisou ser interditada pela Defesa Civil.

O Rio Turvo subiu mais de oito metros e alagou vários pontos. O prejuízo é avaliado em quase R$ 500 mil. Olímpia é uma cidade turística com hotéis e um parque aquático e costuma receber cerca de 20 mil turistas em um fim de semana. Na região, também é escoada a produção de cana-de-açúcar, leite e laranja.

Na estrada rural entre Olímpia e Guapiaçu, só dá para saber que existe uma ponte pela placa, que pode ser vista depois que a água baixou. Nova Granada decretou situação de emergência. Três pontes também estão interditadas.

Minas Gerais
No centro-oeste de Minas Gerais chove há, pelo menos, cinco dias. O resultado disso é um aumento no nível dos rios. Em Divinópolis, o Rio Itapecerica está com cinco metros, três metros acima do nível normal. Uma ponte entre as cidades de Lagoa da Prata e Luz foi interditada. A estrutura está comprometida e 460 produtores rurais foram afetados. “Hoje passa aqui 180 mil litros de leite por dia, então esse pessoal agora tem que dar uma volta de 100 km e pagar pedágio”, relata Carlos Henrique Lacerda, presidente do sindicato dos produtores rurais.

Em Carmo da Mata, seis pontes da zona rural estão comprometidas e duas foram levadas pela água. Em uma delas, um motorista quase foi arrastado pela correnteza. Se as chuvas persistirem, duas mil pessoas em 10 comunidades rurais podem ficar ilhadas. “Nós estamos com 80% das estradas com dificuldades de acesso, 50% quase interditada e isso preocupa muito”, afirma o prefeito Almir Resende.

Paraná
No Paraná, os produtores de soja estimam a quebra de 15% a 20% na safra, que começa a ser colhida no próximo mês. A região de Londrina também tem muita estrada e ponte destruída.

O temporal foi há uma semana, mas ainda é possível ver os estragos, como na BR-369, uma das principais vias de acesso ao norte do Paraná e ao estado de São Paulo, e que é importante para escoar a safra.

Só na região de Londrina, as chuvas danificaram 400 quilômetros de estradas, a maioria na zona rural. Trinta e quatro pontes também foram derrubadas pelos rios que transbordaram. Outro problema é o excesso de umidade, que favorece o aparecimento de pragas e doenças nas lavouras.

Equipes trabalham na recuperação de pontes e estradas, mas o conserto ainda vai demorar. Onze trechos seguem interditados e moradores precisam fazer grandes desvios para seguir viagem.

A chuva recorde no Paraná atingiu 155 mil pessoas e o prejuízo já chega a R$ 100 milhões em todo o estado. Catorze cidades ainda estão em estado de emergência e duas em calamidade pública.