Segundo a Associação Nacional dos Usuários de Transportes (Anut), esse tipo de investimento é um movimento natural e generalizado
Apesar da estagnação da economia, as vendas de caminhões no país somaram 39 mil unidades nos cinco primeiros meses do ano, alta de 47% ante igual período de 2018, sinalizando que está se consolidando um movimento de investimentos das empresas em frotas próprias, diante da elevação de custos com a tabela do frete. Os dados foram divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), entidade que representa concessionárias de veículos.
A produtora de soja e milho Amaggi, da família do ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, frigoríficos e até fabricantes de alimentos já fizeram investimentos do tipo. A processadora de grãos americana Cargill estuda seguir o mesmo caminho desde o ano passado – a empresa informou que ainda não tomou uma decisão, pois aguarda a posição do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a validade da tabela.
A concorrente Bunge informou que também aguarda uma decisão do STF e que está avaliando diversas possibilidades em relação ao frete de seus produtos. A companhia disse em nota que “confia que o Poder Judiciário afastará a tabela de fretes mínimos o mais rápido possível”.
Venda de caminhões
Ao longo do segundo semestre de 2018, as vendas de caminhões foram crescendo mês a mês e fecharam em 76,4 mil unidades, alta de 46,8% ante 2017, conforme a Fenabrave.
Para Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultores, não há outra explicação para a continuidade do crescimento nas vendas que não seja a demanda das empresas investindo em frotas próprias. Isso porque a atividade está estagnada não só na economia como um todo, mas o fluxo de caminhões nas rodovias com pedágio, calculado pela ABCR, entidade que representa as concessionárias, não cresce desde o início de 2018.
Movimento generalizado
Segundo o presidente da Associação Nacional dos Usuários de Transportes (Anut), Luis Henrique Baldez, o investimento em frotas próprias é um movimento natural e generalizado, embora as estratégias das empresas variem. Em alguns casos, as empresas recorrem a outras modalidades de transporte, como a cabotagem e as ferrovias. Em outros, compram ou alugam caminhões.
A Amaggi, por exemplo, anunciou a compra de 300 caminhões da Scania em novembro passado. À época, a montadora sueca informou que tinha outras 400 encomendas, de clientes variados. O frigorífico JBS confirmou a aquisição de 360 caminhões após a greve. Procurada, a companhia não quis informar sobre planos de novos investimentos na frota.
Após a greve dos caminhoneiros, a fabricante de alimentos Predilecta viu o frete terceirizado ficar de 20% a 25% mais caro, segundo Antônio Carlos Tadiotti, sócio-diretor da empresa. A empresa comprou então 15 caminhões, acelerando a estratégia de manter frota própria, que já fazia sentido econômico antes. “Hoje, temos 180 caminhões. Pretendemos chegar a 200”, disse o diretor.
Segundo Tadiotti, a estratégia faz sentido porque permite otimizar a logística, já que os caminhões que entregam produtos em todo o país podem voltar carregados de matéria-prima, como tomate e milho – a empresa tem nos molhos de tomate um de seus carros-chefe.