O acidente com um caminhão no bairro São Bento, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, que deixou dois mortos e um ferido, nesta quarta, expõe a deficiência da fiscalização de veículos pesados no trânsito da capital mineira. Dos 382 radares da cidade, só dois são exclusivos para esse tipo de transporte, e não há previsão de instalação de novos equipamentos. A inexistência de operações específicas para esse contexto – criticada por especialistas – deixa as abordagens restritas ao flagrante ocasional da Polícia Militar e da Guarda Municipal.

Belo Horizonte tem restrição de tráfego de caminhões em 19 corredores, além de todo o perímetro da avenida do Contorno. Outras 108 vias também têm trechos limitados. Apesar das proibições, a Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) mantém apenas uma base estática para fiscalizar e impedir que caminhoneiros desrespeitem a sinalização. Uma equipe fica 24 horas no início da avenida Nossa Senhora do Carmo, no trevo do Belvedere, para abordar os motoristas. O órgão informou não haver previsão de expansão para outros pontos.

Flagrantes. De acordo com a BHTrans, no ano passado foram abordados 4.288 caminhões na avenida Nossa Senhora do Carmo, uma média de 11 por dia. Ainda assim, muitos desses motoristas seguem na via e são flagrados pelo radar existente logo após o trevo do Belvedere. O equipamento, junto com o aparelho instalado no tobogã da avenida do Contorno, no bairro Funcionários, na mesma região, somou, em 2015, 1.111 autuações. O número é 12% maior que em 2014, quando foram 984 flagrantes.

As autuações feitas pelos dois radares representam 0,19% das multas aplicadas por fiscalização eletrônica em BH em 2015, que totalizaram 580.450 infrações. A BHTrans informou que as duas últimas licitações para novos equipamentos não contemplavam mais radares de caminhões e também que não há previsão para outras expansões. Conforme a empresa, seus agentes não podem multar os caminhoneiros, apenas abordar e orientar. Além disso, os locais com restrição estão sinalizados por placas.

Procurado, o Batalhão de Trânsito da PM não se posicionou. A Guarda Municipal informou que não tem ações específicas para caminhões.

Restrições

Regiões. A região Centro-Sul tem o maior número de vias com restrição para caminhões de BH, mas a BHTrans não informou o número. Em seguida vem a região Oeste, com 37 trechos.

Mão única

Recusa. Mesmo com o acidente e o pedido de moradores para mudança no trânsito da rua Centauro, no bairro São Bento, a BHTrans informou que não há previsão de alterar a via
para mão única.

Projeto. Segundo o órgão, desde setembro de 2015 foi elaborado um projeto para a revitalização do trecho, desde a praça das Constelações até a rotatória com a avenida Cônsul Antônio Cadar. O plano prevê redução de velocidade, estreitamento da via e implantação de faixas de estacionamento. A promessa é fazer tudo até o fim do primeiro semestre de 2016.

Palavra de especialista

Falha. O especialista em transporte e trânsito da Fumec Márcio Aguiar diz que, devido a Belo Horizonte ser uma cidade com topografia irregular, a fiscalização de tráfego de caminhões em locais proibidos é insuficiente. Para ele, muitas ações podem ser realizadas, como aumento de radares, orientação de transportadoras e abordagens com equipes na rua.

Planejamento. “Se há a proibição na avenida Nossa Senhora do Carmo, a BHTrans precisa descobrir quais as rotas alternativas que os caminhoneiros estão fazendo e tomar uma atitude. Não é possível deixar um radar estático, mas uma fiscalização pode ser feita por amostragem”, analisa o especialista.

Conscientização. Márcio Aguiar diz que uma pesquisa poderia levar até o ponto de origem das cargas e os pontos de comércio, para instruir os motoristas dos veículos. “Esse acidente já estava demorando para acontecer. Não foi coisa pontual”.

Condutor que atropelou e matou menino recebe pena alternativa

A Justiça condenou a três anos e quatro meses de prisão, em regime fechado, o motorista de um caminhão que atropelou e matou um garoto de 12 anos, em setembro de 2013. No entanto, a pena de Joel Jorge da Silva, 58, dada nesta semana, foi substituída por prestação de serviço à comunidade, em uma instituição a ser escolhida.

A vítima andava de bicicleta na orla da lagoa da Pampulha, na companhia dos pais e de um amigo, quando foi atingida pela carreta no canteiro de uma rotatória.

Segundo a mãe do menino, responsável por ajuizar a ação, o motorista agiu de forma negligente, pois não teve cuidado ao iniciar uma manobra de conversão. Além disso, ele fugiu do local sem oferecer socorro. Além de prestar serviços à comunidade, Silva deverá pagar à família uma indenização de dez salários mínimos. Ele também teve a carteira de habilitação suspensa por cinco meses.

Manicure morreu no dia do aniversário de 1 ano da filha

O corpo da manicure Melrilene Cavalcanti da Silva, 23, morta ao ser atropelada por um caminhão descontrolado no bairro São Bento, na região Centro-Sul da capital, nesta quarta, deve ser sepultado na manhã desta sexta no Cemitério da Saudade, na região Leste. A mulher morreu no mesmo dia do aniversário de 1 ano da filha. Melrilene ainda deixou outro filho, de 5 anos.

De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, por volta das 23h desta quarta, enquanto a prefeitura fazia a limpeza da área, a corporação foi acionada para fazer mais uma busca. Uma família que mora na região deu falta da filha durante todo o dia e, depois do acidente, passou a procurar por ela. O marido de Melrilene informou aos militares que a mulher saiu para atender um cliente e não deu mais notícias. Ela morava na barragem Santa Lúcia, na mesma região.

O motorista do caminhão, Jorge Ricardo Ferreira da Cunha, 52, também deverá ser sepultado nesta sexta, no Rio de Janeiro, para onde o corpo foi enviado nesta quinta.

A terceira vítima é o ajudante Rodrigo Barbosa, 36. Segundo a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), até nesta quinta ele continuava internado no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, com fratura no fêmur e traumatismo craniano leve. Ele já respirava sem a ajuda de aparelhos, se comunicava e apresentava quadro estável.

Investigação. O delegado Rodrigo Fagundes, da Delegacia Especializada em Acidentes de Veículos, informou que um inquérito foi aberto para apurar o caso. Ele disse ter requisitado o laudo da perícia e a intimação de testemunhas. O ajudante Rodrigo Barbosa também será ouvido, assim como o dono do caminhão, que alugou o veículo para o motorista.

“Ocorreu uma imprudência, pois havia placas informando a proibição de tráfego, mas vamos apurar as causas e remeter para a Justiça”.