Elevação afeta supermercadistas, que buscam alternativas para equilibrar as despesas – itens provenientes do Sul e do Sudeste são os mais afetados com aumento dos preços. Farmácias também são impactadas

Centro de um imbró-glio desde que foi criada como solução para a greve dos caminhoneiros no ano passado, a tabela de fretes já onerou em até 5% o valor do transporte de mercadorias pago pelos supermercados no Ceará, de acordo com levantamento realizado pela associação que representa o setor no Estado.

Esses estabelecimentos buscam alternativas para não sofrer os impactos dessas mudanças e, consequentemente, repassar ao consumidor esse custo, o que nem sempre é possível de se fazer.

“A gente tenta, ao máximo, não repassar esse preço ao consumidor final, buscando preços menores nas indústrias. Nós temos os nossos contatos e estamos sempre pensando em outras alternativas. Tudo depende de cada situação. Às vezes, por questão de relacionamento mesmo, a gente consegue um preço menor, o que acaba compensando o frete”, detalha Nidovando Pinheiro, vice-presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu).NEGÓCIOSPotencial do NE no e-commerce não reduz preços elevados de fretes

A Acesu não calculou uma média de quanto é efetivamente repassado ao consumidor justamente pela peculiaridade de cada produto, de acordo com Nidovando. Alguns itens acabam sendo mais sensíveis à problemática que outros, sobretudo os que têm origem no Sul e Sudeste. “É o caso do segmento de hortifrúti, por exemplo, e produtos como o óleo de soja, farinha. A gente calculou um reajuste de 3% a 5%”, explica Pinheiro.

Itens como repolho, laranja, abacate e cebola também são bastante sensíveis ao valor do frete, conforme aponta o analista de mercado da Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), Odálio Girão. “O comerciante da Ceasa puxa mercadoria de estados como Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo”, explica Girão, citando ainda as dificuldades enfrentadas em decorrência da má condição de importantes vias de acesso ao Estado, como a BR-116 e a BR-222. O prejuízo quando algum produto é danificado durante a viagem é dividido entre emissor e receptor da mercadoria.

Tabelamento

A questão do tabelamento dos fretes ainda é considerada bastante duvidosa pelo setor supermercadista. Uma nova relação de pisos mínimos será publicada no próximo dia 20 de julho e vai agregar componentes que antes não eram levados em consideração no cálculo dos pisos anteriores, após a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) ter realizado audiências públicas para tratar do assunto.

Na avaliação do presidente da Câmara Setorial de Logística (CSLog) e coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Heitor Studart, a nova tabela é positiva por suavizar a tensão entre os caminhoneiros. Ele reforça que a principal problemática logística no Estado está relacionada à dificuldade de acesso.

“A nova tabela do frete vai melhorar (a situação), mas a questão principal que eu vejo no Estado é em relação aos acessos. O que mais encarece o custo do frete rodoviário no Estado é isso: o Anel Viário, a BR-222 e a BR-116 estão intransitáveis e isso dificulta muito”.

Remédios

As mudanças nos preços do frete apresentam um impacto diferenciado sobre os remédios. O diretor tesoureiro do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Ceará (Sincofarma-CE), Maurício Filizola, explica que, como os preços dos medicamentos são reajustados pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), ficam comprometidos os descontos repassados aos consumidores. “O frete é pago pela indústria, mas é claro que se ela sofre esse impacto e diminui os descontos, é uma coisa em cadeia”.