ESPECIALISTAS DEFENDEM PUNIÇÃO PARA MOTORISTAS SOB EFEITO DE DROGAS

A direção de veículos por motoristas sob efeito de anfetaminas, cocaína, maconha e outras drogas deve ser alvo de fiscalização e de sanções administrativas e criminais. Esta posição foi defendida pelos especialistas que participaram do painel “Direção sob a influência de álcool e outras drogas” durante a 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito – Tempo de Resultados, encerrada nesta quinta-feira (19) em Brasília.

A Unicam – União Nacional dos Caminhoneiros, marcou presença através de seu presidente, José Araújo Silva, o China.

A coordenadora do painel, Maria Segui Gomez, diretora-geral de Trânsito da Espanha, disse que, para alcançar as metas previstas no Plano Global para a Década de Ações 2011-2020, os países devem adotar medidas severas para combater a direção sob influência de drogas ilícitas (além do álcool), e também o uso do celular ao volante, ao lado dos outros cinco fatores-chaves de risco definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo ela, algumas estatísticas mundiais já apontam que, além do uso do celular por motoristas ao volante, drogas que não o álcool também estão entre os fatores que levam a acidentes de trânsito fatais.

Na Espanha, de acordo com Maria Gomez, o governo criou em 2013 grupos de fiscalização especializados na detecção do uso de outras drogas além do álcool nas estradas. A medida foi precedida de estudos visando a elevar a eficiência dos mecanismos de teste, além de extensão da fiscalização para qualquer horário do dia, durante a semana, incluindo testes de bafômetro em mães que levam crianças às escolas.

Já o gestor de segurança de trânsito nas rodovias federais dos Estados Unidos, Mark Rosekind, informou que um relatório recente alertou seu governo para o aumento de mortes provocadas por motoristas sob influência de outras drogas ilícitas. Segundo ele, nos últimos sete anos houve um aumento de 50% nos acidentes causados por motoristas sob influência da maconha, por exemplo, nas estradas americanas. Ele criticou a liberação da maconha em algumas regiões dos Estados Unidos.

“A segurança no trânsito não é levada em conta quando liberam o uso da maconha”, afirmou Rosekind, comentando que ainda são desconhecidos os níveis de privação dos sentidos que a maconha e outras drogas provocam nos motoristas.

Em relação à influência negativa do álcool, o representante americano informou que, mesmo após 30 anos de monitoramento e sanções, um terço das vidas perdidas nas estradas dos EUA ainda tem como causa motoristas alcoolizados, sendo que 29% das vítimas fatais são jovens.

No Canadá, motoristas sob efeito do álcool matam quatro pessoas por dia, e deixam 175 pessoas feridas. Segundo Angeliki Souranis, presidente da Associação de Mães contra Motoristas Alcoolizados, que teve um filho vitimado por motorista embriagado em 2008, cerca de 34% das mortes no trânsito em seu país são associadas ao uso de álcool. Ela também manifestou preocupação para com a associação maconha/direção, pois, segundo ela, o governo canadense deve legalizar em breve o uso da cannabis.

Sensibilização – Reduzir a associação álcool e direção é uma questão cultural na opinião de Sebastian Urbina Cañas, vice-ministro dos Transportes da Costa Rica. Ele disse que após um trabalho árduo de de conscientização e educação, seu país conseguiu reduzir a 1%, o percentual de mortes nos trânsito causadas por efeito do álcool. “Não foi fácil, mas houve vontade política e muitas campanhas de sensibilização, em especial junto a crianças e jovens. Direção e álcool tornou-se um tema de rejeição social”, disse ele.

O representante do Líbano, Ramzi Salamé, informou que há em seu país uma “política de silêncio”, em especial junto à polícia, que costuma esconder os casos, impedindo registros oficiais sobre direção alcoolizada. “Há uma resistência cultural muito forte, porque eles acham que as famílias não devem pagar pelos erros de quem bebe e comete acidentes de trânsito” disse Salamé.

Já o representante das Filipinas, Dante Lantin, contou que seu país iniciou no ano passado políticas mais incisivas de proibição ao uso de álcool por motoristas, aprovando lei que reduziu a 0,5% o percentual de álcool no sangue de motoristas em geral, e tolerância zero para motoristas de veículos e motocicletas do serviço público.

Lei seca – No caso brasileiro, o especialista e ex-secretário de Transportes do Distrito Federal, Nazareno Affonso, disse que a Lei Seca foi uma das medidas que, efetivamente, contribuiu para reduzir em 6% o número de mortes pelo trânsito em todo o país, nos últimos dois anos. Mas, na opinião dele, os estados e municípios precisam ser mais eficientes na fiscalização.

Para a coordenadora dos debates, Maria Gomez, existe um trabalho exaustivo das autoridades e da sociedade em torno da conscientização de que o álcool tem que ser dissociado da direção de veículos. “É preciso uma mudança de comportamento”, disse ela.

Fatores-chave – A Organização Mundial de Saúde (OMS) define cinco fatores-chaves de risco para a segurança no trânsito do planeta: mistura álcool/direção, excesso de velocidade, não uso de cinto de segurança, de capacete e de dispositivos de retenção nos veículos para crianças