Portos e Navios

Por R$ 300 não dá para pagar o serviço de um motoboy para ir e voltar dos aeroportos de Campinas e Guarulhos (SP) ou mandar uma caixa de Sedex de Brasília a São Paulo.

Mas é dinheiro suficiente para pagar o frete de um contêiner com 20 toneladas de produtos da China para o Brasil.

O valor do frete marítimo de contêineres entre a Ásia e o Brasil está até 85% mais baixo que o de 2014. É o menor da história da navegação entre os país, segundo o maior operador de navios no país, a Maersk.

O preço de US$ 75 dólares apurado pela Folha junto a operadores portuários para trazer um contêiner de 40 pés de Hong Kong para o porto de Santos (SP), o maior do Brasil, equivale a menos de 10% do custo para trazer o mesmo equipamento de Miami, nos EUA, local bem mais próximo.

Também é mais baixo que enviar por Sedex, serviço de entrega do Correios, uma caixa cúbica de 60 centímetros, com três quilos dentro, de São Paulo a Brasília (R$ 337, segundo o site da empresa). Um frete por caminhão de São Paulo a Brasília de uma carga de 50 quilos também pode ser obtido preço mais baixo em sites da internet (R$ 786). Para um motoboy levar um documento entre o aeroporto de Guarulhos e de Campinas, o preço do frete vai a R$ 424.

REDUÇÃO

O frete não é o único custo para quem traz o contêiner. A empresa ainda tem que pagar outros valores, como movimentação e estocagem. Nesse tipo de caixa, em geral chegam produtos de maior valor, como peças para carros, eletrônicos entre outros.

O preço baixo é gerado por uma distorção no mercado. As companhias de navegação aumentaram a capacidade dos navios que fazem linhas entre a Ásia e com o Mercosul, apostando no aumento do fluxo de comércio entre as duas regiões, registrado a partir da década passada. Mas a brusca queda de demanda nos países do bloco sulamericano por importados gerou uma gigantesca ociosidade nos navios, levando à redução drástica dos preços.

Em 2015, houve redução de 9,4% na importação por contêineres no país, segundo os dados da Secretaria de Portos. O movimento caiu de 48 milhões de toneladas para 43,5 milhões. O movimento total de cargas nos portos cresceu 4% em relação a 2014, alcançando um bilhão de toneladas pela primeira vez, puxado pela exportação de minério e produtos agrícolas de baixo valor (soja e milho).

As perspectivas só pioram. A balança comercial de janeiro de 2016 mostrou queda de 26% no valor de importações chinesas em comparação ao mesmo mês de 2015. No Porto de Santos, segundo dados da Abtra (Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados), o número de contêineres importados caiu mais de 20%, de 65,8 mil para 51,9 mil, na comparação entre janeiro de 2014 e de 2016.

Se por um lado o preço baixo do frete é bom para quem traz produtos de fora, por outro é um risco para quando o país voltar a crescer. Mais linhas de navios podem ser retiradas, o que já ocorreu em 2015, devido à baixa rentabilidade.

REESTRUTURAÇÃO

Por causa da demanda mais baixa, a Maersk anunciou na última quarta-feira (17) a unificação de suas operações na região do Mercosul no Brasil (antes havia diretorias na Argentina e Uruguai). Um dos navios que fazia linhas para a Ásia deixará de circular aqui e a empresa vai compartilhar a carga de seus clientes com embarcações de outras companhias.

O novo diretor regional da empresa no Mercosul, o panamenho Antonio Dominguez, afirmou que a reestruturação não afetará os clientes no país. Segundo ele, o problema de queda de demanda ocorre em todo o mundo, o que tem levado a uma redução de preço de frete de cerca de 25%, mas que a situação aqui é ainda pior.

“Está ficando insustentável”, afirmou o diretor lembrando que ainda assim a companhia mantém seus investimento, como a compra de 30 mil novos contêineres refrigerados, equivalente a 12% da frota, para atender principalmente as exportações brasileiras de carnes.

A saída de material em contêiner do Brasil, de fato, aumentou no ano passado, ajudada pela desvalorização do real. O país aumentou em 7% as exportações por contêineres. Os preços para levar o contêiner do Brasil para a China está em US$ 1.250 dólares (R$ 5 mil), quase 20 vezes mais do que para trazer.

Boa parte do aumento de demanda da exportação foi agregado com a inclusão de produtos que antes eram levados soltos nos navios, como celulose, em contêineres para aproveitar o baixo preço do frete dos navios específicos para transportar contêiner.

Para o diretor da Maersk, o ideal seria o país aproveitar o atual momento de baixa para investir em redução da burocracia no comércio exterior e na melhoria da infraestrutura para preparar os portos para receber navios maiores.

Em toda a América Latina, a empresa opera com navios com 30% mais capacidade que os maiores veículos que podem entrar nos portos brasileiros. Quanto maior a capacidade, menor o custo do frete.

ALGUNS NÚMEROS

Frete para importação de contêiner de 40 pés:
Hong Kong x Santos: US$ 75
Hamburgo x Santos: US$ 570
Miami x Santos: US$ 840

Frete para exportação de contêiner de 40 pés:
Santos x Hong Kong: US$ 1.250
Santos x Hamburgo: US$ 570
Santos x Miami: US$ 1.340

Fretes no Brasil*:
Sedex Brasília x São Paulo: R$ 337
Motoboy aeroporto de Guarulhos x aeroporto de Campinas: R$ 424
Caminhão Brasília x São Paulo: R$ 786

(*) Sedex caixa cúbica de 60 cm com 3 kg, Motoboy ida e volta e Caminhão com carga de 50 kg em 10 caixas

Fonte: Folha de São Paulo\DIMMI AMORA DE BRASÍLIA