Com cerimônia de inauguração agendada para quarta-feira (25/9), a Frente Parlamentar Mista do Caminhoneiro Autônomo e Celetista será comandada por membros do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, que têm pela frente o desafio de conciliar interesses da categoria com a política econômica do governo.

Presidente da frente parlamentar, o deputado Nereu Crispim (PSL-RS) falou em entrevista para o UOL o que pensa de algumas exigências dos caminhoneiros. Deputado de primeira viagem, ele terá como companheiros, na vice-presidência, dois membros do PSL paulista: o senador Major Olimpio (líder do partido na Casa) e o deputado Coronel Tadeu.

A categoria está insatisfeita com a indefinição sobre a tabela de frete, que seria analisada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 4 de setembro, mas teve o julgamento adiado pelo ministro Dias Toffoli, presidente da corte.

A tabela proíbe a contratação de fretes abaixo de determinados preços, mas está suspensa desde 22 de julho. Ela foi uma conquista dos caminhoneiros durante a gestão de Michel Temer (MDB), após a greve que gerou uma crise de abastecimento, em maio de 2018.

Para o deputado Nereu Crispim, o PSL não pode apoiar tabelamento de preços, porque isso fere o liberalismo econômico que guia o partido. Ele defende uma “planilha de custos” meramente sugestiva, embora acredite na construção de acordos para que nenhum transportador tenha prejuízo ao realizar fretes.

Apesar de alguns protestos isolados de caminhoneiros, Crispim diz que não vê clima para uma nova greve e que acredita que o governo conseguiu abrir bons canais de diálogo com a categoria, por meio do Ministério da Infraestrutura e dos parlamentares da base.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Como líder da Frente Parlamentar do Caminhoneiro, o senhor é a favor de uma tabela de frete?

Olha, eu não sou a favor de tabela de frete, mas de uma planilha de custo mínimo que preserve o custo do pneu, do óleo diesel, dos pedágios. Enfim, de alguns itens que compõem o frete, calculado com base no quilômetro rodado. A partir desse custo mínimo, quem quiser trabalhar para comprar um Fusca, trabalhe para comprar um Fusca. Quem quiser trabalhar para comprar uma Ferrari, que trabalhe para comprar uma Ferrari.

Nós não podemos ter uma tabela de frete, porque ela vai contra o liberalismo econômico, que é o princípio econômico do meu partido, o PSL. Mas acho que a gente pode construir, com o agronegócio e com outros embarcadores de vários ramos, uma situação na qual a planilha de custo mínimo seja preservada.

Chamar de “planilha de custos” não é só trocar o nome da tabela de frete?

Acho que há uma diferença. A planilha seria um termo de referência com alguns itens, que preservaria o custo mínimo do transporte, que todos eles conhecem. Na hora em que se fala em tabela de preço, você considera apenas um item, que é o preço final baseado num suposto cálculo.

Mas como garantir o preço do frete sem tabelar?

Não sei quais serão os dispositivos legais para preservar esse custo mínimo na hora de contratar um frete. Mas eu, com a frente parlamentar, quero buscar exatamente isso: que se preserve a planilha de custo, porque ninguém pode trabalhar abaixo do valor de custo do transporte.

Muitos caminhoneiros votaram em Bolsonaro, que propunha menos intervenção do Estado na economia, e agora pedem tabelamento de preços. Não é contraditório?

Foi o governo anterior [o de Michel Temer, do MDB] que criou a tabela, na época, para criar um ambiente de negócio para que os caminhoneiros voltassem ao trabalho. Não que aquilo tenha sido criado com mero intuito de empurrar a situação com a barriga. Mas as lideranças e as pessoas com quem tenho conversado, que não representam a totalidade dos caminhoneiros, a maioria delas fala agora em planilha de custos.

O senhor acha que o governo teme uma nova greve?

Esse termo “temer uma nova greve” deve ser descartado. Temos é que valorizar esse ambiente que existe hoje, de abertura para reuniões com nosso ministro Tarcísio [de Freitas, da Infraestrutura], com o governo Bolsonaro e com os deputados que compõem a base aliada. E há espaço para conversar, negociar, exatamente para que não haja uma greve ou uma paralisação, porque eles mesmos não veem isso como um dispositivo transparente. Até porque o nosso presidente sempre apoiou a categoria e está demonstrando com as ações do governo até o momento que ele governa para todos, até para o agronegócio, que às vezes os caminhoneiros veem como empecilho para a tabela.