Estão em Minas Gerais três dos 10 trechos mais perigosos de estradas federais brasileiras, segundo ranking divulgado este mês pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), que apresentou um estudo detalhado dos acidentes ocorridos entre 2007 e 2017. O levantamento aponta o estado como o recordista de mortes dessa natureza nos últimos 10 anos. Isso significa que 12.367 pessoas perderam suas vidas nas BRs mineiras, representando 14,9% de um total de 83.481 óbitos registrados no período em todo o país.

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O maior perigo em Minas, segundo o documento, está na BR-381, conhecida como rodovia da morte, no trecho em Itatiaiuçu que vai do quilômetro 524,6 ao 534,3. Lá foram registrados 95 acidentes com 14 mortes, deixando o local na quarta posição entre os 10 pedaços mais arriscados de se trafegar. Na oitava e nona posição da lista da CNT estão pontos da BR-040, que passam respectivamente pelos municípios de Alfredo Vasconcelos e Contagem. No primeiro foram 29 acidentes e 11 mortes e no segundo, 118 acidentes com 10 mortes.

O coordenador da disciplina de engenharia de infraestrutura de transporte e trânsito da Fumec, Márcio Aguiar, diz que as estatísticas recorrentes traduzem as condições das estradas mineiras. “Minas é o estado que tem o maior número de rodovias federais e um problema que o governo federal tem postergado, e não tem conseguido resolver, é a duplicação das pistas. Toda estatística mostra isso: é um estado muito irrigado por rodovias federais que passam por uma região montanhosa, sem duplicação e com uma qualidade ruim em função do grande volume do tráfego”, afirma.

Rodovias brasileiras foram alvos de estudos
Rodovias brasileiras foram alvos de estudos

No caso da BR-381, o professor acrescenta o fato de serem muitas curvas e uma grande quantidade de caminhões transitando. O trecho que vai de Belo Horizonte a Governador Valadares, segundo o especialista, é o pior, pois deveria ter sido duplicado desde a década de 1980 e hoje sofre as consequências dessa falta de intervenção.

Para solucionar o problema, Márcio Aguiar diz que é preciso um grande investimento a médio e longo prazos. “Enquanto tivermos essa política partidária de investimentos, que não considera as necessidades técnicas e na qual os ministros pensam só na eleição e no estado dele, não teremos solução. O Brasil não tem infraestrutura de transporte, é um dos países que mais mata nas estradas porque não existe transporte confiável e descente neste país”, lamenta.

CAPACIDADE SATURADA O estudo da CNT também fez relação entre dados da infraestrutura viária das rodovias, considerando características como estado geral, sinalização, pavimento e geometria, e os acidentes registrados pela Polícia Rodoviária Federal em 2017. De acordo com os dados, as BRs 101, 116, 153, 381, 040, 316, 364 e 262 concentram mais da metade de todas as mortes em acidentes nos 10 anos pesquisados. O diretor-executivo da CNT, Bruno Batista, diz que a capacidade saturada dessas rodovias pode explicar o elevado número e defende a necessidade de investimento principalmente em obras de duplicação, implantação de acostamento e placas de sinalização.

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É preciso conjunto de ações para diminuir a mortalidade

Depois de Minas, os estados com mais mortes nos últimos 10 anos são a Bahia, com 7.816 registros (9,4% do total), e o Paraná, com 6.894 óbitos (8,3%). As estradas mineiras também são campeãs em número de acidentes de trânsito com vítimas nas rodovias, respondendo por 15,3% de todos os casos. Nesta sequência aparecem Santa Catarina, com 11,3%, e Paraná, com 10,7%.

O coordenador da bancada mineira na Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho (MDB), atribui o resultado ruim ao fato de Minas Gerais ter o maior número de estradas e também características de muitos morros e curvas. Segundo ele, a BR-381 teve problemas de trechos abandonados pelas empresas e atualmente está passando por obras com o intuito de melhorar sua segurança somente em dois trechos. Os demais precisam de novas licitações. O parlamentar afirma que estão previstos R$ 200 milhões para intervenções nas BRs 381 e 267 este ano.

Diante do diagnóstico da CNT, Ramalho diz que fará reunião no Ministério dos Transportes e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para reivindicar a inclusão de obras que forem necessárias para a melhoria da BR-040. O parlamentar também entrou com um pedido para que o presidente Michel Temer (MDB) reconsidere o corte de recursos para a BR-367, feito no orçamento logo depois do acordo para encerrar a greve dos caminhoneiros.