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Minas Gerais registra queda brusca no número de mortos nas rodovias federais, mas as batidas frontais ainda são as principais causas de óbitos e desafiam responsáveis por gerenciar o tráfego. Essas são algumas das conclusões de balanço do Polícia Rodoviária Federal (PRF) sobre as ocorrências no primeiro semestre de 2016 nas BRs que cortam o estado. De janeiro a junho de 2016, 387 pessoas morreram em estradas federais mineiras, número 22,5% menor do que no mesmo período do ano passado (499). Dos óbitos, 154 foram resultado de colisões frontais, o que corresponde a quase 40% do total.
Para a PRF, a redução de mortes se deve a um conjunto de ações, que incluem maior conscientização dos motoristas, aumento do valor das multas para infrações com maior potencial de causar mortes e melhorias nas estradas. Especialistas avaliam que parte da queda pode estar associada a um menor movimento nas BRs provocado pela crise econômica.
A redução nas mortes no primeiro semestre de 2016 segue movimento registrado desde o ano passado. Em janeiro, o Estado de Minas mostrou que houve menos de 1 mil óbitos nas BRs que cortam Minas em 2015, menor número de série histórica iniciada em 2007. Levando em conta o balanço dos seis primeiros meses do ano, a tendência é que 2016 registre marca ainda menor de óbitos.
“O motivo principal é a colaboração dos condutores. Toda vez que os motoristas adotam posturas mais defensivas e dirigem de forma mais prudente, a tendência é que se reduza o número de acidentes e, consequentemente, o número de vítimas”, avalia o inspetor Aristides Júnior, chefe da assessoria de comunicação da PRF em Minas. “Essa redução já vem sendo notada não só em 2015, mas em anos anteriores”, acrescenta.
O número de acidentes também caiu no primeiro semestre de 2016: foram 6,8 mil capotamentos, batidas de frente, laterais, traseiras e saídas de pista, 16,4% menos que no mesmo período de 2015 (8,1 mil). Como consequência, também houve 9% menos feridos: 6,7 mil, contra 7,3 mil. A PRF em Minas considera que, além da prudência de uma parte dos motoristas, melhorias implementadas por concessionárias de trechos de BRs privatizados e o aumento no valor das multas para ultrapassagem proibida contribuíram para a redução da violência nas estradas.
“Não noto redução no número de veículos transitando. Muito pelo contrário, a frota não para de crescer”, reforça o inspetor Aristides Júnior. Dados de junho de 2016 mostram mais de 92 milhões de veículos registrados no Brasil, número 4% maior do que os 88,7 milhões de junho de 2015.
CRISE Para o especialista em educação e segurança no trânsito Eduardo Biavati, também mestre em sociologia, o fenômeno de queda na violência nas estradas não está restrito a Minas Gerais. Ele avalia que a crise econômica pode, sim, ter influído nos números, uma vez que a produção da indústria automotiva voltou a níveis de 2004 e que há sinais de que as pessoas estão viajando menos. “É uma redução muito grande de um ano para o outro sem que a gente tinha tido anúncio de qualquer grande investimento, seja em campanhas educativas, maior número de viaturas, fiscalização, ou mais radares”, opina. “Não acredito em um chá de consciência, mas sim que as pessoas estão menos móveis”, completa.
Biavati destaca, a exemplo da PRF, medidas positivas como melhorias em estradas concedidas nos últimos anos à iniciativa privada, casos das BRs 040, 262, 153 e 050 em Minas, e o aumento no valor das multas por ultrapassagens proibidas. Mas o especialista acredita que uma tendência só vai se configurar com a manutenção dos dados em baixa por um período maior de tempo. “O que eu conheço dessas estatísticas é que é necessária um período de cinco anos no mínimo para você consolidar redução. Espero que a atividade econômica se recupere e que tudo isso não vá por água abaixo”, diz.
Rigor maior com ultrapassagens
Apesar da queda na violência nas estradas, o balanço de colisões frontais ainda preocupa a Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas Gerais. Dados do balanço do primeiro semestre de 2016 mostram que as batidas de frente mantêm alta letalidade nas BRs mineiras. De janeiro a junho deste ano, foram 423 acidentes do tipo, o que equivale a apenas 6,17% de todas as 6,8 mil batidas. Essas colisões, porém, foram suficientes para provocar 154 mortes – quase 40% do total.
A PRF destaca que as batidas frontais e as mortes nesse tipo de acidente estão diminuindo, mas avalia que resultados melhores podem ser obtidos com a evolução dos investimentos nas estradas, principalmente duplicação das rodovias concedidas à iniciativa privada. Segundo o balanço, foram 482 batidas de frente nos seis primeiros meses do ano nas estradas federais mineiras, contra os 423 registrados este ano (queda de 12,3%). As mortes saíram de 196 para 154 na mesma comparação, redução de 21,5%.
Para o inspetor Fábio Jardim, da assessoria de comunicação da PRF em Minas, os números do primeiro semestre indicam maior segurança, mas reconhece que diminuir a violência provocada pelas colisões frontais ainda é um desafio. “A pista simples, que é maioria em nossas rodovias, potencializa a colisão frontal. Esses números podem ser reduzidos ainda mais com melhorias na segurança das estradas”, diz. “Também estamos atentos às ultrapassagens proibidas. As multas emitidas pela PRF para quem ultrapassa desrespeitando a faixa contínua tem grande destaque na atuação de nossos policiais”, acrescenta.
O especialista em educação e segurança no trânsito Eduardo Biavati cobra duplicação de uma maior parte da malha viária. “Só o fato de duplicar uma rodovia e implantar o acostamento já elimina, automaticamente, a chance de colisões frontais”, lembra.
Enquanto isso…
…Obras em ritmo lento
Se o caminho mais indicado por especialistas e autoridades de trânsito para evitar colisões frontais é duplicar as rodovias, Minas Gerais enfrenta problemas. Duas grandes BRs, que normalmente ocupam os dois primeiros lugares no ranking de acidentes, mortos e feridos no estado, aguardam essas intervenções há muito tempo. No caso da BR-381, por exemplo, entre Belo Horizonte e Governador Valadares (Vale do Rio Doce), as obras andam em ritmo lento. Dos 11 lotes, as obras começaram em apenas cinco e em nenhum deles foram concluídas. Já na BR-040, nem mesmo a transferência para a iniciativa privada acelerou a duplicação. Dois anos depois da concessão do trecho de mais de 900 quilômetros entre Brasília e Juiz de Fora, só houve a duplicação em cerca de 70 quilômetros, a maior parte em Goiás. A obtenção de licenças ambientais para as intervenções é uma das dificuldades para o início das obras.