G1 – Os roubos de carga se tornaram uma das principais fontes de renda das quadrilhas de traficantes de drogas. Desde 2011, o número de ocorrências no estado do Rio triplicou, chegando a 9.870 casos registrados em 2016 – o número é recorde desde o início da série histórica, 24 anos atrás.
Os caminhões são interceptados nas estradas, principalmente na Via Dutra, na Washington Luiz e na Avenida Brasil. E as rotas de fuga das quadrilhas estão perto de comunidades: somente na região dos conjuntos da Pedreira e do Chapadão, na Zona Norte do Rio, a polícia já identificou 11 rotas usadas pelos ladrões de carga. A polícia não divulga quais são estas rotas para não atrapalhar as investigações.
Entre as quadrilhas que já foram presas, havia participação de funcionários de empresas que transportam cargas. Para os donos de transportadoras, a sensação é de abandono, já que nem a proteção de um seguro eles conseguem ter.
“Muitas vezes nao dá porque as empresas que fazem esse tipo de seguro não querem fazer mais porque torna-se inviável. Você faz a primeira vez e é roubado, faz a segunda vez e é roubado, e os valores sao muito altos”, conta o empresário Marcos Jorge Nunes.
Com 30 anos de experiência rodando nas estradas do país, o caminhoneiro Sebastião Alves conta que tem muito medo de passar pelo Rio de Janeiro. “Eu viajo para todo canto do Brasil: Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, mas o pior lugar que tem é aqui mesmo”, afirma.
Outro caminhoneiro, Rogério Vaz, conta já ter sido vítima de ladrões duas vezes e chegou a ficar 12 horas em poder dos criminosos. “Eles abordam na rua, com carros pequenos. Fiquei 12 horas no meio do mato, levaram o caminhão, a carga, dinheiro, tudo. É horrível, [dá] uma sensação de impotência, é muito ruim”, diz ele, que tem 25 anos de profissão.
Prejuízos sem seguro
Os ataques geram grandes prejuízos para o setor de transporte de cargas. A federação que representa os empresários do setor estima que os roubos geraram prejuízo superior a R$ 1 bilhão no ano passado.
“Nós atingimos índices intoleráveis no Rio de Janeiro, acabamos de ganhar o troféu de campeões nacionais de roubo de cargas. Estamos à beira de um colapso, os motoristas não querem mais arriscar suas vidas”, afirma o coronel PM Venâncio Moura, diretor da Fetranscarga.
O dirigente da entidade também avalia que as medidas adotadas pela polícia não estão dando resultado. “as seguradoras estão obrigando [as transportadoras] a ter um geranciamento de risco, rastreamento, e nós verificamos que a polícia não está tendo poder de resposta”, diz Moura.
Por meio de nota, a Polícia Militar informou que deu início no ano passado à operação Mercadoria Legal para combater os roubos de cargas, e que atua nas regiões mais visadas pelas quadrilhas.
Já a Polícia Rodoviária Federal informou que, em 2016, prendeu quase 4 mil pessoas nas estradas – quase cinco vezes mais que em 2015 – e desde dezembro reforçou a fiscalização na Baixada Fluminense e na Região Metropolitana.
Por fim, a Polícia Civil informou que as delegacias têm desenvolvido trabalhos de inteligência para identificar e prender os criminosos.