Gazeta Web – Um transporte arriscado e perigoso, no qual os passageiros são levados de um canto a outro como se fossem mercadorias, sem nenhum tipo de segurança, soltos em bancos de madeira e em meio a animais, sacolas de feira e outros objetos. Apesar de proibido, o uso das carrocerias de caminhões para o deslocamento de pessoas – conhecido popularmente como pau de arara – ainda é muito comum em cidades do interior de Alagoas, inclusive com a conivência do poder público. São estudantes e outros moradores de pequenas cidades que enfrentam o desconforto e o medo por não terem outras alternativas de transporte disponíveis.
Os flagrantes podem ser feitos em muitas estradas vicinais e até em rodovias, em especial nas que ficam situadas na região do Sertão, onde as dificuldades de acesso a ônibus e outros meios mais dignos de transporte são bem maiores. Em dias de feira, os caminhões chegam a formar filas nos “pontos” de chegada e partida e o sobe e desce das carrocerias tornam-se cenas comuns. Mas o cenário não se repete só no Sertão. No Agreste, em cidades como Arapiraca e São Sebastião, por exemplo, os paus de arara roubam a cena e também invadem as ruas.
Enraizado na cultura popular do nordestino e cantado por ícones da música brasileira como Luiz Gonzaga, esse tipo de transporte não se enquadra no Código Brasileiro de Trânsito e já deveria ter sido extinto. A resistência tem custado caro e colocado a vida de muitas pessoas em risco, inclusive de crianças. O último acidente envolvendo pau de arara em Alagoas foi registrado no mês de julho na zona rural da cidade de Joaquim Gomes. Na ocasião, um caminhão que levava estudantes para a escola tombou e deixou feridos. Um pouco mais distante, no estado do Piauí, outro acidente ocorrido este ano, no mês de junho, em uma rodovia local, deixou cinco pessoas mortas.
![](http://gazetaweb.globo.com/fotosPortal/portal_gazetaweb_com/noticias/foto_grande/2017/09/201709151742_d0c7c03117.jpg)
Pessoas se arriscam nos paus de arara nas cidades do interior de AL
FOTO: MARCELO AMORIM
Os órgãos de fiscalização – como o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e a Agência Reguladora de Serviços de Alagoas (Arsal) – reconhecem o problema e prometem apertar o cerco em torno da proibição efetiva deste tipo de transporte, mesmo sabendo que não será uma missão fácil, já que por muitas décadas o pau de arara foi o principal meio de condução de muitas pessoas.
Em Arapiraca, segunda maior cidade de Alagoas e a mais importante do interior, pode-se observar dezenas de caminhões e caminhonetes circulando livremente pelas ruas, principalmente às segundas-feiras, dia em que acontece a principal feira livre da localidade. Os veículos vêm de cidades das regiões do Baixo São Francisco, Agreste e Sertão, mas na Zona da Mata também é utilizado até mesmo como o único meio de transporte existente, como é o caso do município Pindoba.