A presença de caminhões-cegonha estacionados na Avenida Boa Viagem completou dez dias ontem, um dia após o motorista de um carro ficar ferido e ser hospitalizado depois de bater em um dos veículos, que estão parados em vagas para automóveis de passeio. Levados para a beira-mar desde 10 de agosto, quando foram retirados da região central da capital devido a uma medida judicial, os caminhões estão sendo usados por seus motoristas em protesto que pede maior inserção da categoria no transporte dos veículos produzidos em Goiana ao Porto de Suape. A atitude deles tem dividido a opinião de quem passa pelo local.

Os veículos ocupam a faixa da direita da avenida, do Clube da Aeronáutica e as imediações do Parque Dona Lindu. “Esse é um protesto silencioso, diferente de outros que fecham as avenidas e queimam pneus. É algo pacífico e não está incomodando ninguém”, disse o soldador naval Geison Campelo, que mora nas proximidades do Clube da Aeronáutica. O empresário Virgílio Moreira, que aproveitou o domingo de sol para ir à praia com a família, também não vê problemas. “Eu concordo. Eles estão no direito de protestar”, disse. Apesar de ter ido à praia de carro, ele afirmou não ter encontrado dificuldades para estacionar. “O fluxo é menor aos domingos”.

Mas nem todos veem com bons olhos o fato de os caminhões ocuparem boa parte das vagas. “Isso é ridículo. Atrapalhou muito a gente. Da mesma forma que eles são trabalhadores, nós também somos e estamos perdendo dinheiro”, disse Rogério Jorge da Silva, proprietário de um quiosque localizado em frente ao Parque Dona Lindu. Segundo ele, desde que os veículos estacionaram na avenida, a movimentação de clientes caiu 70%. “Antes, vários ônibus de turismo paravam aqui todos os dias. Como não têm mais onde estacionar, seguem direto para o Centro da cidade”, lamentou.
O professor Lamarck Vasconcelos, que costuma frequentar o trecho em frente ao Parque Dona Lindu, também se queixou da dificuldade para estacionar. “Acho o protesto válido, mas atrapalha a questão da mobilidade e de estacionamento”, disse. Acompanhado da mãe, que é idosa, e da esposa, o professor precisou dar duas voltas no quarteirão até achar uma vaga e, ainda assim, estacionou longe do local onde costuma ficar.

IMPASSE

cegonheiros
No fim de julho, os cegonheiros ocuparam as principais vias do Centro do Recife, incluindo as pontes Maurício de Nassau, Princesa Isabel e Buarque de Macedo. A categoria denuncia que os profissionais pernambucanos estão sendo preteridos no transporte dos veículos produzidos na Zona da Mata Norte até o Porto de Suape por empresas de São Paulo e de Minas Gerais. A medida, segundo eles, vai de encontro ao Programa de Desenvolvimento do Setor Automotivo do Estado de Pernambuco (Prodeauto).
Uma liminar concedida pelo Poder Judiciário no dia 10 de agosto determinou a retirada imediata dos veículos do Centro, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. Após os motoristas terem se deslocado para Boa Viagem, outra decisão judicial também determinou que eles deixassem a avenida, mas os veículos permanecem estacionados no local.
Diário de Pernambuco