Extra (RJ)
SÃO PAULO (Reuters) – Empresas de transporte rodoviário enfrentaram uma ampliação na defasagem dos valores de fretes no primeiro semestre, com a maioria delas tendo que oferecer descontos ou congelar tarifas, sem repor a inflação, numa tentativa de manter clientes em um momento de desaceleração da economia e excesso de caminhões disponíveis, apontou nesta quarta-feira uma pesquisa do setor.
Até a frustração da colheita de soja e, principalmente, da de milho em 2016 ajudou a desequilibrar o setor de logística.
Desde o início do ano, 41 por cento das transportadoras de carga deram descontos no valor dos fretes e 40 por cento mantiveram os preços congelados, apesar de uma inflação anual de até 8,5 por cento nos custos, segundo levantamento da Associação Nacional do Transporte de Cargas (NTC&Logística).
As demais empresas conseguiram reajustar contratos, mas na média os aumentos ficaram abaixo da inflação.
“Normalmente, a defasagem no meio do ano sempre foi menor que no início do ano, porque os reajustes acontecem entre março e maio”, disse o assessor técnico da entidade, Lauro Valdívia, destacando que a situação não se repetiu este ano.
As transportadoras já enfrentam forte defasagem no frete há pelo menos dois anos, como efeito de uma super oferta de caminhões no mercado, decorrente de vários anos de crédito fácil para a aquisição de veículos.
Nos últimos meses a situação agravou-se, já que a desaceleração da atividade econômica do país tem impacto direto sobre o volume de cargas produzidas e transportadas.
O setor que mais tem sofrido é de “carga lotação”, no qual os clientes contratam fretes que ocupam um caminhão inteiro, como uma carga de cimento saindo da indústria ou um carregamento de grãos levado da fazenda até o porto.
A pesquisa da NTC mostrou que nesse segmento a defasagem entre os preços obtidos nas tarifas e o custo operacional chegou a 22,9 por cento no primeiro semestre.
Além da menor produção industral, uma safra de soja e milho prejudicada por clima adverso em diversas regiões do país contribuiu para menor demanda. Isso sem contar que é comum a migração de caminhões: se faltam pedidos de frete em algum setor industrial, é comum que essa capacidade acabe sendo oferecida em áreas onde ainda há alguma demanda, como o agronegócio, pressionando ainda mais as cotações de frete.
“A ‘lotação’ é composta por cargas mais industriais e agrícolas que sofrem bastante influência do excesso de oferta de caminhões”, disse Valdívia. “De um lado tem excesso de caminhão, do outro, tem menos cargas. A safrinha de milho teve uma quebra grande. Isso está afetando.”
A pesquisa apontou também defasagem entre preços e custos para o setor de “carga fracionada”, que movimenta pacotes e encomendas e demanda o apoio de centros de distribuição. Isso inclui distribuição de alimentos para supermercados, onde a movimentação não caiu tanto.
Nesse setor, a defasagem está atualmente em 9,8 por cento.
A defasagem medida na pesquisa do início do ano, que não diferenciava ainda cargas “lotação” e “fracionada”, ficou em 12,9 por cento, em média. Um ano atrás, o índice estava em 10,14 por cento.
(Por Gustavo Bonato)