G1
São rodovias do prejuízo e da desesperança”, afirma o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Monte Alegre (Sinpruma), Valdemar Hutim, ao se referir às rodovias estaduais PA-423 e PA-254, que estão em completo abandono, em Monte Alegre, oeste do Pará.
Valdemar Hutim contabiliza na ponta do lápis os números dos prejuízos. Ele garante que os produtores somam perdas de mais de R$ 2 milhões mensais, especialmente com o transporte de bovinos e de frutas.
“Por causa das viagens mais demoradas e também pelo enorme desconforto imposto aos animais durante o transporte, a perda é de 20kg por animal. Como movimentamos a média de 600 animais ao mês, para exportação ou abate local, esse prejuízo chega a mais de R$ 760 mil”, afirmou Hutim. Segundo ele, já houve casos de tombamento de caminhões boiadeiros, com mortes de animais.
Por causa das péssimas condições das rodovias, marchantes e exportadores de animais já se recusam a recolher as reses nas propriedades rurais. Eles exigem a entrega direta nos abatedouros ou entrepostos. “Isso é mais prejuízo aos criadores”, queixa-se o presidente do Sinpruma.
Monte Alegre tem o maior rebanho bovino do oeste do Pará, com 230 mil animais. As cidades de Manaus (AM) e Macapá (AP) são os principais mercados para a venda de bovinos do rebanho local.
As perdas na agricultura local também são significativas. No início da entressafra na produção de limão, Monte Alegre está colhendo 110 toneladas/mês do produto, mas quase 30% desse total se perdem durante o transporte. Cerca de 40% das produções de banana (60 ton/mês) e de mamão (400 ton/mês) também se estragam. Com o tomate, a perda chega a 30%.
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras (STTR), Vilma Araújo de Sousa, confirma os prejuízos também aos agricultores familiares. “Os produtos que vêm da Serra Azul, por exemplo, especialmente as frutas, chegam batidos e amassados, alguns já estragados, o que só faz aumentar o prejuízo dos agricultores”, afirmou.
Serra Azul é a nova fronteira agrícola do município, principal área de produção local de frutas e grãos. Mas não é apenas isso. Segundo Vilma, além das viagens mais demoradas, o desconforto também chega ao bolso dos agricultores familiares. “O preço das passagens e do transporte dos produtos aumentou, e vários caminhões já se recusam a fazer viagens, por causa dos danos nos veículos”.
Segundo a presidente do STTR, em situação semelhante estão as estradas vicinais que cortam os diversos assentamentos agrícolas existentes em Monte Alegre.
Sobram buracos
Com extensão de 49 quilômetros, a PA-423 é o principal acesso rodoviário das regiões produtoras de Monte Alegre à sede do município e ao porto de Santana do Tapará, em Santarém, oeste do Pará, por onde parte da produção local é escoada.
A PA-245, concebida como “a rodovia da integração”, corta a sub-região da Calha Norte no sentido leste-oeste, fazendo a conexão rodoviária entre os municípios de Prainha, Monte Alegre, Alenquer, Curuá, Óbidos, Oriximiná, Faro e Terra Santa, no oeste do Pará. Iniciada nos anos 80, ela segue incompleta e tem extensão aproximada de 350 quilômetros entre um extremo e o outro.
Sem asfalto e manutenção desde o último verão (portanto, há mais de um ano), as duas rodovias estão intrafegáveis em vários pontos. Na PA-423, o leito da estrada está quase que totalmente destruído, com uma sucessão de buracos de todos os tamanhos. As viagens são desconfortáveis e demoradas. Em muitos locais, o que era acostamento virou o leito principal da estrada. Lá, a velocidade média é de 30 km/h. Em apenas dois curtos trechos é possível a velocidade de 60 km/h. A extensão de 49km da rodovia, chega a ser percorrida em mais de duas horas.
Na PA-254, a situação é semelhante. Os veículos que fazem o transporte de cargas e passageiros dos municípios de Alenquer são obrigados a acessar estradas vicinais para escapar dos pontos intrafegáveis. O mesmo acontece com caminhões que fazem o transporte de produtos agropecuários, especialmente bovinos, limão, banana e mamão. Os motoristas, indignados, reclamam de danos nos veículos e dos enormes prejuízos.
Providências
Enquanto os agricultores de Monte Alegre acumulam prejuízos e parte da produção agropecuária se perde por causa de estradas esburacadas, o poder público não demonstra muita preocupação.
O prefeito de Monte Alegre, Jardel Vasconcelos (PMDB), disse que enviou ao governo do Estado, em fevereiro desse ano, um documento solicitando providências para a restauração das cinco rodovias que cortam o município. Mas, segundo ele, não obteve qualquer resposta, e também não voltou a tratar do assunto.
No dia 14 de março, os vereadores aprovaram requerimento pedindo providências urgentes ao governo do Estado para ao menos minimizar o estado crítico em que se encontram as rodovias estaduais no município. O documento foi enviado ao governador Simão Jatene, sem resposta até agora.
*Colaborou o jornalista José Maria Piteira, de Monte Alegre