O mercado de seguro transporte passa por um período desafiador. Com notícias de assaltos frequentes, os clientes investem no gerenciamento de risco para conseguir contratar um seguro com taxas não proibitivas.
O volume de contratação de seguros chegou a R$ 2,99 bilhões em 2016, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) agrupados pela consultoria Siscorp. Cerca de 62,9% desse valor voltaram aos clientes em indenizações pagas, principalmente por roubo. No segmento de transporte nacional, esse índice supera 80%. O seguro de responsabilidade civil do transportador, obrigatório por lei, representou R$ 1,7 bilhão do total. O transporte nacional registrou volume de vendas de R$ 815 milhões em 2016, alta de 13,8% comparado com 2015, e o transporte internacional, de R$ 454,8 milhões, queda de 6,2%.
Segundo Rose Matos, gerente de transportes da Porto Seguros, o seguro de responsabilidade civil facultativo por desaparecimento de carga, voltado para a cobertura a roubos de carga, atingiu índice de sinistralidade de 89,9%, muito acima dos 60% considerados uma marca mediana para a lucratividade da carteira. “Entre as mercadorias mais roubadas estão os produtos alimentícios, combustíveis e confecções em geral, seguidos de mercadorias constantemente visadas, como eletroeletrônicos, medicamentos e pneus.”
“É preciso ter leis mais severas para punir os receptadores”, afirma Adhemir Fuji, consultor de gerenciamento de risco do Sindicato das Seguradoras de São Paulo (SindSeg-SP). “Tudo que é possível fazer em termos de gerenciamento de risco e tecnologia é feito pelas seguradoras em parceria com seus clientes e empresas de rastreamento. Resta agora os governos atuarem mais próximos das quadrilhas para inibir a escalada da violência em transporte de cargas.”
Enquanto aguardam do governo medidas mais enérgicas quanto a punição das quadrilhas especializadas em roubo e distribuição de cargas roubadas, a saída, apontada por Eduardo Michelin, responsável pela área de transporte da corretora Willis Towers Watson, é conseguir equilibrar os resultados com o gerenciamento de risco.
De um lado a pressão dos clientes por redução de despesas e por corte de gastos cresceu vertiginosamente. De outro, um significativo aumento da sinistralidade, índice que mostra o volume pago de indenizações sobre o valor pago pelos clientes às seguradoras. “A gestão do risco que era uma questão opcional, agora se tornou mandatória. Sem isso, esqueça o seguro”, afirma.
A Sompo Seguros reformulou o produto e criou uma área de gerenciamento de risco que supervisiona o prestador de serviço responsável pela escolta e monitoramento. Ao que tudo indica, tem dado certo. O crescimento das vendas em transporte foi de 63% em 2016, conta Adailton Dias, diretor da área de transportes. “O gerenciamento de risco, quando bem realizado, pode ser crucial para que o transporte da carga aconteça de forma segura, eficaz e sem custos excessivos ou não previstos.”
A Tokio Marine aposta nos produtos sob medida. Felipe Smith, diretor executivo de produtos pessoa jurídica, afirma que a saída é desenhar planos de gerenciamento sob medida para cada cliente e também ofertar serviços que apoiem os clientes na prevenção. “Desenvolvemos gerenciamentos mais robustos em datas especiais do comércio. Também temos programas para ajudar os motoristas no dia a dia, como o SOS Estrada.”
A Liberty reformulou a carteira diante das perdas e voltou a apostar no segmento. “Reestruturamos a área por uma série de fatores, um deles foi a busca de um crescimento mais sustentável. Este trabalho foi baseado em quatro pilares: pessoas, resultados, sistema e lançamento de um novo produto, o Transporte Fácil, que nos ajuda a aumentar nossa capilaridade”, conta Marcos Siqueira, superintendente de transporte da Liberty Seguros.
Carlos Polízio, diretor de seguros transporte da BB Mapfre, afirma que as oportunidades estão focadas em disponibilizar soluções às pequenas e médias empresas, tanto no mercado nacional quanto em operações internacionais.
Alexandre Leal Rodrigues, presidente da Comissão de Transportes da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), reconhece que há uma inteligência do mal, capaz de neutralizar os efeitos do sofisticado arsenal tecnológico usado no rastreamento e monitoramento das cargas. “Ter uma política de subscrição adequada é a única arma para evitar perdas maiores.”
Fonte: Valor