Quadrilhas que controlam o tráfico de drogas em áreas do Rio de Janeiro próximas a vias expressas e galpões identificaram o roubo de cargas como uma forma de aumentar seu poder econômico nos últimos três anos. O assunto foi debatido por agentes de segurança que participaram hoje (24) do Fórum Permanente de Combate e Prevenção ao Roubo de Carga, que se reuniu na Associação Comercial do Rio de Janeiro.

Em 2013, o total de roubos de carga registrados no estado do Rio de Janeiro somou 3.534 casos, segundo o Relatório de Roubo de Carga do Instituto de Segurança Pública (ISP), da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Apenas um ano depois, a incidência subiu para 5.590 e, em 2015, chegou a 7.225. O aumento continuou em 2016, com 8.541 casos registrados apenas entre janeiro e novembro.

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Em 2013, o total de roubos de carga registrados no estado do Rio de Janeiro somou 3.534 casos. (Foto: Divulgação)

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Rio de Janeiro, José Roberto de Lima, disse que as primeiras quadrilhas do tráfico de drogas a verem o roubo de carga como uma oportunidade foram as que controlam o tráfico nos Complexos do Chapadão e Pedreira, na zona norte da capital. As comunidades em que esses criminosos atuam são próximas a vias expressas como a Avenida Brasil e a Rodovia Presidente Dutra, em uma área onde também há galpões de empresas de logística – muitos deles abandonados.

“A viabilidade econômica desse crime no horário diurno se tornou algo muito atrativo para o tráfico e isso está se espalhando. Quadrilhas de outras favelas estão aderindo”, afirmou Lima, que acredita que as quadrilhas acabam aproveitando a “mão de obra” que ficaria parada durante o dia para cometer os crimes, quando há a oportunidade.

A rentabilidade do crime de roubo de carga supera a receita com o tráfico durante o dia, segundo o superintendente da PRF no Rio, e garante mais recursos para a compra de armamentos usados no controle territorial. Para o delegado titular da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) da Polícia Civil, Maurício Mendonça, a consequência desse processo é um agravamento da violência.

“O trafico está usando a mercadoria roubada para adquirir mais droga e mais armamento, fortalecendo o tráfico nas comunidades”.

Receptores

O delegado ressaltou que a venda produtos roubados não seria um crime tão lucrativo se não houvesse compradores para essas mercadorias. “As facções conseguiram alianças com intermediários que alcanlçam receptadores. Eles são o maior problema do roubo de cargas, porque, se não houver receptador, não há roubo”.

Os receptadores são, em grande parte, comerciantes de estabelecimentos que dão a seus produtos a aparência de legalidade, o que permite que as pessoas consumam sem saber que estão comprando mercadoria roubada. Os alvos preferidos dos ladrões, segundo Mendonça, são produtos como carnes, bebidas e cigarros.

“São produtos que podem ser vendidos de forma separada e fracionada. Isso dificulda a identificação da origem”.

Na abertura do fórum, o presidente da Federação do Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Rebruzzi, defendeu punições mais duras para comerciantes que sejam descobertos como receptadores de carga roubada.

“É importante que exista uma mudança na legislação para agravar penas: cortar CNPJ [Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas] de empresas que sejam encontradas com produtos roubados, cortar o alvará”.

O aumento dos roubos de carga, segundo ele, tem levado empresários a desistir do estado. “As empresas estão deixando de vir ao Rio de Janeiro. Tenho amigos empresários que falam que não colocam o pneu no Rio de Janeiro”, diz Rebruzzi, que antecipa que o setor deve começar a implementar uma taxa emergencial de risco de 0,3% a 0,5% do valor das mercadorias que saem ou se destinam à cidade do Rio de Janeiro. O percentual, considerado uma defesa do setor, teria ainda R$ 10 a R$ 15 de valor mínimo de cobrança.

Combate

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Rio de Janeiro afirma que já foram adotadas medidas de cerco para coibir a prática de roubo de carga nas áreas que foram mapeadas como mais críticas. Ele defende que quanto mais rápido as autoridades forem comunicadas sobre os roubos, melhor será a resposta às ocorrências.

Práticas como o investimento em tecnologia por parte das empresas de transporte podem ser um auxílio nesse sentido, e uma atitude simples pode facilitar na identificação dos caminhões roubados: identificar os veículos com a numeração das placas também na parte superior, para que possam ser mais facilmente reconhecíveis durante o monitoramente aéreo, disse Rebruzzi.

“Não estamos falando de um individuo comum que está roubando apenas com uma arma. Estamos falando de organizações que se moldaram para aquilo”.