G1

Ele acaba o efeito de uma hora pra outra, por isso que o pessoal compra muito. Toma dois, vão embora, daqui a pouco toma mais dois. Você dorme de olho aberto, cara”. Essa é a descrição de um caminhoneiro sobre uma droga muito usada pelos motoristas de carga pesada nas estradas: o rebite. A mesma substância usada pelo motorista da carreta que provocou o acidente que matou 23 pessoas na BR-101, em Guarapari, em junho deste ano.

O rebite é uma anfetamina, substância que existe em alguns remédios, como os inibidores de apetite, por exemplo. Age no sistema nervoso central e é um estimulante que faz o cérebro trabalhar mais rápido, causando a sensação de falta de sono.

carga

“Eu já tomei para viajar de São Paulo a Belo Horizonte. Era 11 da noite, viajei a noite inteira, trabalhei o dia inteiro e só parei de novo às 11 horas da noite, mas só consegui dormir até três da manhã e não dormi mais”, contou o caminhoneiro, que não quis se identificar.

O rebite é um velho conhecido dos motoristas de carga pesada, mas hoje, outra droga já entrou nesse mercado: a cocaína. “A cocaína me faz ter alucinações, já o rebite é para o cansaço, porque tem uma hora que seu corpo não aguenta mais. Quando o efeito passa e o cansaço volta, a mente apaga mesmo. O olho fica aberto, mas o cérebro para de funcionar porque você tá há várias noites sem dormir”, descreve outro caminhoneiro.

Uma pesquisa da Confederação do Transporte apontou que quase metade dos caminhoneiros afirma que já recebeu oferta de drogas e que a cada 100, pelo menos 12 acabam aceitando.

Outro caminhoneiro, que afirma não fazer uso de drogas, confirma que a oferta realmente existe e é fácil. “Uma vez uma mulher chegou oferecendo no posto de gasolina, perguntando se a gente curtia. Eu disse que não queria, mas ela só chegou na gente porque sabe que muito caminhoneiro usa. Falei que a gente não mexe com isso não”, disse.

Medicina

O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) no Espírito Santo explica os efeitos da substância e o que acontece quando ele acaba.

“Inicialmente ela age nos reflexos, a pessoas acaba se sentindo mais invulnerável do que ela é, ela acaba arriscando mais, acaba provocando manobras mais bruscas e reage, às vezes, a situações de emergência que não existem. A pessoa literalmente dorme de olho aberto, provoca um acidente e nem vê que isso aconteceu”, disse.

Fetransportes

O presidente da Federação das Empresas de Transportes do Espírito Santo (Fetransportes), Jerson Picoli, explicou que para essa realidade mudar, é preciso ter mais fiscalização.

“Tem que ter uma fiscalização mais rígida dentro dos nossos postos de combustíveis, onde funciona mais esse mercado. Então a Polícia Rodoviária Federal junto com o Sest Senat com investigação e pesquisa, vão informando para a gente eliminar os focos e evitar esse tipo de oferta de remédios e drogas”, falou.

Mas enquanto a realidade não muda, o vício pega a estrada. Um outro caminhoneiro admitiu para a reportagem que usa rebite, cocaína, e sabe que está errado. O problema é que já não consegue trabalhar sem o efeito da droga.

“Tô lutando pra sair fora dessa porcaria. Tu deixa de comer coisa boa, de aproveitar coisa boa, entendeu? Eu quero sair, porque eu sei que eu sou uma pessoa boa e só faço o bem pra todos”, finalizou.